Opinião: A Rapariga no Comboio de Paula Hawkins



 

O êxito de vendas mais rápido de sempre.

O livro que vai mudar para sempre o modo como vemos a vida dos outros.


Todos os dias, Rachel apanha o comboio... No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.

Até que um dia...

Rachel assiste a algo errado com o casal... É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada.

Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.





O livro conta a história de três mulheres cujas vidas se entrelaçam, se afectam e partilham muitas mais afinadas do que à partida possa parecer.


É uma história forte, com uma voz possante, repleta de personalidade e cheia de simbologia. Faz-se acompanhar de personagens credíveis e cruas, o que as reveste de uma proximidade interessante e atractiva para quem lê.


O livro é-nos apresentado pela voz de três personagens Rachel, Megan e Anna, cabendo a Rachel ser o fio condutor desta intrincada história. Cabe a ela também unir todas as outras personagens, cabe a ela ser a chave para o mistério que se adensa em cada nova cena.


Gostei simbologia atribuída ao comboio, a sua recorrência que lembra os ciclos da vida e a sua propensão para repetir o caminho trilhado como se de um percurso previamente definido se trata-se. O paralelismo da passividade com que nos entregamos e aceitamos o que nos é imposto. Uma entrega despojada de ambição a uma rotina que se enceta a cada novo dia nas nossas vidas. A passividade desconcertante a que nos confinamos e nos acomodamos.


A autora joga com a imaginação do leitor, aproveitando os lugares comuns da fragilidade humana para encontrar a ligação com o leitor. Utiliza um forte e inteligente mecanismo de conexão: as emoções.


Qual de nós não se perdeu em pensamentos num ou noutro momento e conscientemente (ou inconscientemente) não ficcionou sobre a vida de um estranho? Faz parte da natureza humana(!), é assim que nós criamos (ou não) empatia por alguém que não conhecemos, com quem nem sequer falamos! É algo que ultrapassa o racional, algo primário que se baseia nos nossos instintos! Tendemos a estabelecer relações entre as nossa vivência, entre "o que" e "quem" conhecemos, e com base em alguma semelhança física, de atitude, de postura, do timbre de voz, de um gesto, de uma reacção, criarmos uma pretensa imagem de alguém. E esta é a ideia que é apresentada ao leitor, um começo ("Hook") forte e apelativo que à partida apresenta mais perguntas do que respostas, como convém.


Quanto aos mecanismos usados: a autora aproveita muito bem as limitações que providenciam as visões de vários narradores, as suas naturais limitações, a sua subjectividade, como é o caso do problema com a bebida e as repetidas perdas de memória de Rachel.


As personagens são apelativas. Conseguimos subtrair simbolicamente traços comuns nos géneros! O sexo feminino apresenta-se frágil, permissivo, por vezes submisso e por oposição com rasgos de insuspeita energia e insurgência que as fazem emergir e opor-se, transformando as suas fraquezas em forças. 

O sexo masculino, por sua vez, apresenta-se opressivo, dominador, manipulador, galanteador com escassas pinceladas de sensibilidade. Havendo também aqui uma subtil e trabalhada fragilidade e uma imprevisível reversão.



Em suma:



Um imponente thriller, forte e encorpado pela fragilidade humana.

Um jogo intenso e auspicioso entre a inevitabilidade e o suspense.

Irremediavelmente um best-seller.

Os dias  partilhados com o livro ...

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