Opinião: Flores Cortadas de Karin Slaughter





 
Irmãs. Desconhecidas. Sobreviventes.

Passaram mais de duas décadas desde que Julia, a irmã mais velha de Claire e de Lydia, desapareceu aos 19 anos, sem deixar rasto. Algum tempo depois, elas deixaram de se falar e seguiram caminhos opostos. Claire tinha-se convertido na esposa decorativa e ociosa de um milionário de Atlanta. Lydia, uma mãe solteira, namorava com um ex-presidiário e esforçava-se por fazer com que o dinheiro chegasse até ao fim do mês. 
 
No entanto, nenhuma delas recuperara do horror e da tristeza da tragédia partilhada. Uma ferida atroz, que se reabriu cruelmente quando o marido de Claire foi assassinado. 
 
O desaparecimento de uma jovem e o assassinato de um homem de meia-idade, separados quase por um quarto de século. Que relação podia haver entre ambos? Depois de alcançar uma trégua precária, as irmãs sobreviventes olharam para o passado em busca da verdade, começaram a desenterrar os segredos que destruíram a sua família, a descobrir uma possibilidade de redenção e vingança onde menos esperavam.




O desaparecimento de um filho, um irmão é uma experiência devastadora cujas consequências se mantêm com uma ferida aberta que não há forma de sarar. As questões, as dúvidas, os “e se …”. Júlia tinha 19 anos quando, sem deixar rasto, desapareceu. Deixou os pais e duas irmãs, Claire e Lydia, com as vidas destroçadas.

Anos mais tarde, após o marido de Lydia morrer assassinado à sua frente, as duas irmãs reencontram-se.

Juntas começam a descobrir segredos obscuros que poderão encontrar respostas ao que aconteceu a Julia.



Karin Slaughter é uma das minhas autoras preferidas. É, sem sombra de dúvida, uma das autoras mais dotadas dentro deste género literário. Com um invulgar dom, a autora discorre a história permitindo ao leitor uma perspectiva singular e muito pessoal sobre a mesma..

A sua escrita é irrepreensível e destaca uma descomprometida intencionalidade, ocultando na aparente simplicidade do enredo a sua árdua construção. Maravilhoso efeito!

Da sua escrita destacam-se as imagens “muito gráficas”, segundo alguns, das cenas violentas. Independentemente desse grafismo, o que mais se destaca, quanto a mim, é o realismo que as mesmas cenas transportam. Um leitor tem que sentir o impacto dessas imagens, o leitor não pode passar incólume, e nisso Karin Slaugter é genial. 

Em cada um dos seus livros que já tive a oportunidade de ler há um elemento que sobressaí, um elemento que serve a história e serve de condutor. Este livro não é excepção! Para mim as cartas do pai são esse elemento aglutinador. São elas que nos convidam a revisitar o passado das personagens, nos permitem compreender... São elas que nos apresentam um pai dilacerado que não consegue entender nem aceitar o desaparecimento da filha, um pai que não deixou de seguir as filhas, ainda que à distância.

Todas as personagens apresentam uma construção harmoniosa e coerente, mas a personagem do pai de Júlia, Sam, destaca-se. Lembra-me quando nos Óscares há uma personagem secundária que sobressaí de tal forma que ofusca as personagens principais. Parece-me ser este o caso.

Ainda sobre esta personagem gostava de sugerir que disfrutem da imagem terna que Sam nos oferece quando fala na ex-mulher, Helen, e nas filhas. Há um episódio “brilhante” que nos é relatado após Sam ter tido uma espécie de ataque cardíaco, em que Helen vai tratar dele.Há aqui um duplo sentido nas palavras de Sam, que deixa no ar a dúvida se de facto Sam não tem noção da gravidade do seu estado ou se de facto ele se aproveita da atenção da mulher para partilhar de momentos de genuína intimidade.

É um livro extraordinário, de elevada qualidade que rivaliza facilmente com a qualidade dos anteriores.

Grandioso livro. Recomendo.

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