Opinião: Deixei-te Ir de Clare Mackintosh





 


 Numa fração de segundos, um acidente trágico faz desabar o mundo de Jenna Gray, obrigando uma mãe a viver o seu pior pesadelo. Nada poderia ter feito para evitar esse acidente.
Ou poderia? Essa é a pergunta que a inquieta quando tenta deixar para trás tudo o que conhece, procurando um novo recomeço refugiada num chalé isolado na costade Gales.

Também o detetive Ray Stevens, responsável pela investigação por este caso que procura a verdade, começa a ser consumido pela sua entrega ao mesmo, deixando a vida pessoal e profissional à beira do precipício.
À medida que o detetive e a sua equipa vão juntando as pontas do mistério, Jenny, lentamente, permite-se vislumbrar uma luz de esperança no futuro, o que lhe dá alguma segurança, mas é o passado que está prestes a apanhá-la, e as consequências serão devastadoras




De um violento acidente resultou a morte de uma criança. 
Este facto alterou uma série de vidas entre outras, obviamente, a da mãe, a do culpado e inclusive a do investigador!

Deixei-te ir é o primeiro livro de Clare Mackintosh, e podemos dizer que começou com o pé direito.
Acresce dizer que a autora tem uma excelente bagagem profissional, tendo ela sido uma inspectora da policia pôde aproveitar e tirar proveito dessa experiência e vertê-la convenientemente no livro.

A sua escrita é fluída, estruturada e eloquente.

Estamos perante um thriller psicológico de alto nível, que vai crescendo e ganhando intensidade na segunda parte.

O livro é-nos apresentado na primeira pessoa por algumas personagens, na 1ª parte, Ray Stevens - o detetive inspetor, e Jenna Gray dividem as cenas. Mas é na segunda parte, quando o enredo fica mais intenso que a estas duas personagens se junta também Ian, e onde podemos apreciar a estupenda e verosímil caracterização de Ian.

Quanto ás personagens:
Para além da personagem principal, Jenna Gray, que foi brilhantemente esculpida. Com tridimensionalidade e coerência incontestáveis. Devo dizer que a personagem que mais me agradou foi Ian! Foi a força incoerente, errática e selvagem que lhe foi transmitida. A manipulação consciente que lhe dava um prazer desconcertante. A mistura entre o sentimento de posse, a imposição de dependência e a necessidade da subjugação quer física quer psicológica de Jenna. Acho que Clare captou uma imagem muito próxima da realidade de um abusador/dominador, e julgo que não erro se disser que foi uma das melhores caracterizações deste tipo de personagens. Acho que a perspectiva, muito genuína, na primeira pessoa, ajudou muito na criação deste efeito.

A única recomendação que faço, é que não leiam a sinopse! Porque uma das belezas desta narrativa está no jogo da descoberta e da incerteza dos papéis atribuídos a cada personagem. Na dúvida que é criada, nas conclusões que tiramos e que posteriormente são colocadas em causa.

Agradavelmente surpreso pela intensidade e caracterização que o livro transporta. Recomendo.

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